1. Os Espíritos não são, como supõem muitas pessoas, uma
classe à parte na criação, porém as almas, despidas do seu
invólucro corporal, daqueles que viveram na Terra ou em outros
mundos.
Aquele que admite a sobrevivência da alma ao corpo, admite,
pelo mesmo motivo, a existência dos Espíritos;
negar os Espíritos seria negar a alma.
2. Faz-se geralmente uma idéia muito errônea do estado dos
Espíritos; eles não são, como alguns acreditam, seres vagos e
indefinidos, nem chamas semelhantes a fogos-fátuos, nem
fantasmas como os pintam nos contos das almas do outro
mundo. São seres nossos semelhantes, tendo como nós um
corpo, mas fluídico e invisível no estado normal.
3. Quando a alma está unida ao corpo, durante a vida, ela tem
duplo invólucro: um pesado, grosseiro e destrutível — o corpo;
o outro fluídico, leve e indestrutível, chamado perispírito.
4. Há, pois, no homem três elementos essenciais:
- A alma ou Espírito, princípio inteligente em que residem o
pensamento, a vontade e o senso moral;
- O corpo, invólucro material que põe o Espírito em relação
com o mundo exterior;
- O perispírito, invólucro fluídico, leve, imponderável, servindo
de laço e de intermediário entre o Espírito e o corpo.
5. Quando o invólucro exterior está usado e não pode mais
funcionar, tomba e o Espírito o abandona, como o fruto se
despoja da sua semente, a árvore da casca, a serpente da pele,
em uma palavra, como se deixa um vestido velho que já não
pode servir; é o que se designa pelo nome de morte.
6. A morte é apenas a destruição do envoltório corporal,
que a alma abandona, como o faz a borboleta com a
crisálida, conservando porém seu corpo fluídico ou
perispírito.
7. A morte do corpo desembaraça o Espírito do laço que o
prendia à Terra e o fazia sofrer; e uma vez libertado desse
fardo, não lhe resta mais que o seu corpo etéreo, que lhe permite
percorrer o espaço e transpor as distâncias com a rapidez
do pensamento.
8. A união da alma, do perispírito e do corpo material constitui
o homem; a alma e o perispírito separados do corpo
constituem o ser chamado Espírito.
OBSERVAÇÃO — A alma é assim um ser simples; o Espírito
um ser duplo e o homem um ser triplo.
Seria mais exato reservar a palavra alma para designar o
princípio inteligente, e o termo Espírito para o ser semimaterial
formado desse princípio e do corpo fluídico; mas, como não se
pode conceber o princípio inteligente isolado da matéria, nem
o perispírito sem ser animado pelo princípio inteligente, as
palavras alma e Espírito são, no uso, indiferentemente empregadas
uma pela outra; é a figura que consiste em tomar a
parte pelo todo, do mesmo modo por que se diz que uma
cidade é povoada de tantas almas, uma vila composta de tantas
famílias; filosoficamente, porém, é essencial fazer-se a
diferença.
O que é espiritismo? Allan Kardec